opinião

Homossexualidosos



Entre os que estão aprendendo a envelhecer, temos os homossexuais. Aqueles jovens da década de 1960 que deram nova visão aos gays por terem polemizado, protestado, manifestado e reivindicado lugar social quando velavam todo sentimento com mensagem de fraqueza ligada ao comportamento feminino. Aqueles jovens buscavam seus direitos, como cidadãos, a manifestação de amor e ao respeito social, marcando história em Paris, Roma e Nova York, espraiando a ideia do movimento gay organizado.

Uns envelheceram, outros estão envelhecendo, precisam preparar-se para encarar a velhice e preocupam-se em construir condições para viver sadiamente sua sexualidade. O fato é que abriram caminho, assumindo a homossexualidade, com respeito (ainda que não total) ao amor gay, não entendido como crime, pecado, desvio ou doença.

Descobrir-se gay era doloroso e, de certa forma, ainda o é para os jovens e para quem está envelhecendo, pois velhice e homossexualidade são combinações perigosas quando a situação é nova e cheia de preconceito. Aí, se vê a preocupação em criar ou preparar lugares que os recebam, oferecendo-lhes condições dignas de acolhimento.

Esta discussão me levou a um evento em Berlim. Lá soube que a cidade possui 1,3 mil homossexuais idosos vivendo em asilos despreparados para lidar com sua orientação sexual. Muitas vezes são obrigados a se ocultarem de volta no velho armário, contra o qual lutaram tanto. É comum relatos de velhos gays e lésbicas que, ao revelarem sua homossexualidade nessas instituições, passam a ser excluídos e deixam de ser bem-vindos às refeições. Vivem sob ameaça de dependerem de estranhos para suas necessidades pessoais e acabarem vítimas de maus-tratos, insultos e desrespeito. Muitos acabam com depressão e chegam ao suicídio.

A simples discussão é uma questão específica que não resolve as questões do atendimento a essa população, cujo número é relativamente significativo, que se cuida e vive mais. Os sentimentos gerados na sociedade, no que se refere à presença de envelhecentes gays, podem ser classificados, basicamente, em dois: o da compreensão e o da condenação.

A condenação é preconceituosa, vinculada ou fundamentada em crenças religiosas, sendo também manifesta por pessoas que reagem com olhares furtivos ou desviam do tema julgando não terem relação com o caso. Essas são situações reais de negação que implicam em problemas sociais, quando as necessidades humanas se conflitam e emergem como realidades a serem encaradas sem preconceito.

O da compreensão contribui para a inserção cidadã da homossexualidade, daí as conquistas legais no que se refere à partilha de bens materiais, união civil e a adoção.

Não é raro encontrar homossexuais não manifestos que, durante quase uma vida, ocultaram sua identidade sexual, especialmente dos pais. Quando eles morrem, se libertam do temor, da culpa e repressão e sentem o direito de viver novas opções. Mesmo que mantendo disfarces sociais, as mulheres solteiras, viúvas ou divorciadas, com o álibi de que são amigas e de que serão companhia uma da outra, passam a compartilhar o mesmo lar e o mesmo espaço relacional afetivo. Os homens, mesmo sob olhares preconceituosos, abdicam de suas máscaras de ermitões, de esposos ou de pais, para assumir o risco da libertação de si próprios, arcando com o peso social da discriminação. Esse é o compromisso pela decisão de ser o que é!

Nessa realidade, é imperioso rever conceitos para que sejam respeitadas a identidade, a assistência médica adequada e as políticas sociais voltadas às necessidades que emergem.

Neste espaço, falei de uma categoria que a nova velhice está suscitando. Certamente existem outras que, com a luz focada nessa direção de análise, podem iluminar outras reflexões. Fica o convite ao leitor para refleti-las e desvendá-las.


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